SEGUNDO DIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO-COLÉGIO TEIXEIRA HOLANDA
I Imagem: Acervo pessoal-Lia Batista, 11 out 2019
.
DIA 10/10/2017
A escola que fiz a regência foi a mesma
instituição que fiz a observação. Um dia antes. pela manhã às 8:00h cheguei no
colégio e fui bem recebida pela coordenação e direção. Apresentei oralmente o
projeto da aula de artes com o tema Boneca Abayomi - Retalhos da África e me
convidaram para a “Semana cultural” que iria acontecer na semana
seguinte.
Por ocasião do estágio I, eu havia disponibilizado o meu ateliê
para uma aula de campo com os alunos, a coordenadora achou por bem inserir essa
experiência já para a apresentação da minha regência no estágio II. Achei
interessante e inusitada, e fora do planejamento, porém aceitei a
proposta.
11/10/2019-PRIMEIRO DIA 7:30h às 11:05;
13:00h às 15:30h do dia seguinte (ensolarado),
A turma esperava ansiosa em
sala (7° ano) com a professora quando entrei juntamente com a
coordenadora. Esta falou com os alunos todo o meu procedimento e eu expliquei o
que íamos fazer; 8.15min eu e a professora conduzimos a primeira turma até ao
ateliê (situado nas proximidades) conforme o combinado anteriormente.
Durante toda manhã fiquei recebendo as
turmas da escola (no total foram 130 alunos do ensino fundamental 1 e 2
divididos por horários).
Às 8.20min ao chegarmos na entrada do
ateliê falei da minha atividade, do estágio e em seguida, pedi para os alunos
entrarem e apreciarem as obras. Falei da profissão de artista plástica, da
minha experiências, mostrei as obras e me fizeram muitas perguntas de como era
o processo de criação; quantos dias uma obra era concluída; como era o
mercado de artes; quem eram meus clientes…
No final da visita de cada turma que
entrava, apresentava o tema da regência, sobre o conceito do belo, sobre
as cores africanas, a cultura africana, história da África e mostrei algumas
telas com esse referencial e o processo do trabalho que iria acontecer na etapa
seguinte da aula 3 na escola.
Por fim pedi que no próximo
encontro me levassem imagens que remetesse a cultura, as cores da África e
seus aspectos culturais. Assim, contabilizei a primeira e a segunda aula
durante esse primeiro encontro no ateliê nos períodos da manhã e tarde, (até as
15:30min.).
Foi muito interessante essa
experiência, pois para a maioria, esse momento era o único; primeiro
contato com ambiente de arte, especialmente um ateliê de pintura e artesanato
ecológico. Saíram cheios de expectativas e animados para a aula seguinte.
12/10/2017-SEGUNDO DIA- 9:30h às
11:05h.
Sou recebida gentilmente pela
coordenadora que me direcionou a sala do sétimo ano. Nesse tempo a coordenadora
tenta controlar a turma juntamente com a professora de arte Geise. Faço a
primeira fala e pergunto quem trouxe as imagens (Ninguém trouxe). A pedido da
professora escrevo o nome da boneca Abayomi e peço para irmos para o pátio,
pois o sexto e o oitavo também iriam participar da aula, a pedido da
coordenação. Um aluno fala sobre o que sabe sobre a cultura africana, o
maracatu. Em seguida todos saem em fila ordeiramente junto com a professora e
eu. E aos poucos chegam mais duas turmas. O mini pátio, um ambiente coberto bem
arejado propício para uma bela aula de arte pela manhã.
Ao chegarmos, convoquei a turma para
formar um grande círculo. Com dificuldades eu e a professora conseguimos
acalmar os ânimos das três turmas. Após o círculo feito solicitei para que
todos ficassem sentados no chão. Falei sobre a história e trajetória dos
africanos para o Brasil, do uso das cores da cultura africana, sobre o maracatu,
o porquê das cores, da música, dos instrumentos e sobre a formação da etnia
brasileira.
Puxei o debate com os alunos sobre a
riqueza sociocultural e a formação étnica brasileira e o questionamento do que
seria belo, como, o porquê desse assunto para a nosso dia a dia na escola e na
sociedade.
Sugeri que olhassem um para o outro com
respeito e evitassem o preconceito, as brincadeiras de mau gosto e que era
preciso respeitar as diferenças. Falei do bulling e perguntei sobre
algum caso na escola; exemplifiquei sobre os transtornos causados por essa
prática, sobre os casos de automutilação e suicídio devido ao bulling na
escola.
Apesar de serem três turmas achei que o
interesse deles foi além do esperado. Falei das angústias na adolescência, da
paquera na escola, da influência dos hormônios, formação da identidade e dos
sentimentos nessa faixa etária. Alguns participavam e outros escutavam
atentamente, outros riam...
10:20h - Falei da diáspora
africana, do sofrimento dos africanos nos navios negreiros, da escravidão, da
boneca Abayomi e qual o resultado eu esperava dessa apresentação. Na sequência
pedi para ficarem de pé, juntei a galera de mãos dadas, aproximei o máximo os
corpos de mãos levantadas e fiz a vivência corporal entre olhares e
espelhamento para que reconhecessem no outro como as semelhanças, companheirismo
e amizade.
Após essa experiência voltamos a sentar
novamente em círculo no chão. Essa era a hora mais esperada. Mostrei um modelo
da boneca tamanho grande e expliquei o processo para a produção da boneca
Abayomi com nós de amarrações. Não foi possível usar a música do maracatu, nem
recortar os retalhos em sala, como havia planejado, mas como já sabia que não
ia dar tempo, levei todo o material preparado, somente para fazer as amarrações
e vestir a boneca.
Solicitei que colaborassem uns
com outros compartilhando as dificuldades, e assim aconteceu. Foi muito
interessante perceber a resistência dos garotos quando ouviram falar em fazer bonecas.
Daí tentei desconstruir a ideia machista e mostrei-os o exemplo da paternidade
e que brincar de boneca não influencia na masculinidade de ninguém.
Ao final percebi a dedicação e
habilidades dos garotos nas amarrações dos nós e nos vestidos. Vi que muitas
garotas tinham dificuldades para dar os nós de amarração e muitas eram
inquietas o suficiente para não compreender a explicação. A professora ajudou
bastante, mas aparentava um pouco cansada.
Eu e a professora distribuímos os kits
das bonecas já cortados. Observei que a turma queria escolher as cores dos
recortes dos tecidos que eu levei, porém não permiti a escolha, porque era
justamente isso que eu queria, que eles não escolhessem e sim aceitassem as
diferenças também nas cores dos tecidos, fazendo essa relação simbólica do belo
a partir dessa experiência.
11:05h – Começamos a produção da
bonecas Abayomi.
Expliquei passo a passo, ajudando quando solicitada. Ao
terminar a produção da boneca eles comparavam umas às outras, daí pedi para
refletir de que forma esse olhar deveria ser direcionado. E que a razão desse
trabalho era justamente esse, refletir sobre o conceito do belo, tendo em
vista que a essência humana não tem cor e na escola e ou na sociedade
todos precisam refletir, para todos serem aceitos em pé de igualdade.
TARDE-13.00h às 13:55h
Turmas de
sexto, sétimo ano e nono - Turno tarde - A tarde continuei esse trabalho
com outras turmas, segui o mesmo roteiro da manhã, porém como faltou energia a
quadra estava quente, os alunos querendo ir embora. Quando cheguei uma aluna
disse: “oh, tia logo hoje que você veio, faltou energia!!” eu falei para ela:
“Se não for hoje vai ser outro dia”. Outro aluno que estava com dor no
estômago, ia embora... Ele ficou para essa aula até o final sem reclamar e
ainda quis ser fotografado com a boneca.
E apesar da falta de energia e o calor
da quadra quente, muito continuaram depois do encerramento para conversar
comigo. A professora teve dificuldade para levá-los de volta à sala para pegar
as mochilas, pois já ultrapassava o horário.
Por fim um aluno do sexto ano veio
agradecer pelo trabalho e fez um pequeno vídeo no meu celular falando da beleza
das obras, dos cuidados com o meio ambiente, da visita ao ateliê e da
construção da boneca Abayomi que ele havia feito.
A experiência foi muito valiosa, mas de
vez enquanto a situação saia do controle. Teve um momento que eu associei
aquela situação a história dos navios negreiros; até me senti sufocada. Percebi
que a rotina de professor não é nada fácil e de aluno também não. Nem sempre o
que se planeja é seguido à risca, mas que um plano B precisa ser apresentado em
sala de aula, o importante é que a aprendizagem seja significativa para o
conhecimento de mundo.
A prática é bem mais interessante
que a teoria. Espero que essa vivência com a Abayomi na escola possa
contribuir com o desenvolvimento do senso crítico a respeito do conceito do
belo para minimizar os transtornos causados pelo preconceito e as práticas do bulling
na escola.
BIBLIOGRAFIA
HISTÓRIA. O Maracatu. Maracatu. org. br.2019.
VIEIRA, Kauê. Brasil/África. Bonecas AbayomiS: Símbolo de resistência, tradição e poder feminino, 2019.
Disponível em: http://www.afreaka.com.br/notas/bonecas-abayomi-simbolo-de-resistencia-tradicao-e-poder-feminino/> Acesso em: 09/04/2019.
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