SEMANA UNIVERSITÁRIA UECE-2017
APRESENTAÇÃO ACADÊMICA
Minha
vida escolar começa aos seis anos de idade na “Carta de ABC” e na tabuada na escola
comunitária Pontes Carvalho na periferia de Fortaleza. O sonho de passar de ano
era ganhar cadernos novos e sair da carta de ABC. Lembro que estudei na
“Cartilha do Povo”, na escola da Dona Eunice em um livro com volume único com disciplinas
de Matemática, Linguagem, Ciências e Estudos Sociais apenas.
Meu
material didático se resumia a um simples caderno, lápis de escrever e a uma
caixinha de lápis com seis cores. Isso era tudo para uma estudante em que
precisava aprender a ler, escrever e fazer as quatro operações matemáticas.
Naquela
época a cultura era que as mulheres fossem preparadas apenas para casar, ter
filhos e nada mais. Nessa trajetória fui migrando de escolinha em escolinha até
chegar a quarta série. Entre o carrancismo dos professores, puxões de orelhas e
palmatória para a punição os rebeldes, às vezes conseguia alguma professora mais
humanas que nos davam uma segunda chance nas atividades as quais não tínhamos
bons resultados. O drama para quem não se enquadrava no decoreba das leituras e da tabuada era vexatório, principalmente no
dia de arguição. Aos 7 anos, aprendi as ler as primeiras palavras com o professor
Neto.
“Nessa
Pedagogia, o aluno é visto como um ‘depositório’ de conteúdos. A preocupação
pedagógica foca-se no produto final e o processo não é importante. O conteúdo é
reprodutivista e, portanto, mantém a divisão social” (PIANOVISKI; GOLDBERG, p.
14, 2015).
Nos anos 70 depois de passar após terminar a
quarta série do primário no Instituto 15 de Novembro, com a professora Zilá
consegui meia bolsa de estudos para ingressar no quinto ano ginasial no
(particular) Colégio Santa Cruz em Parangaba, onde o sistema educacional não
era muito diferente, além da preponderância dos professores, olhar dos
diretores teria que enfrentar a distancia de casa.
Por
dois anos acordava de madrugada ia e voltava a pé por falta de recursos
financeiros, transporte coletivo raro, quando muito apanhava carona no ônibus
escolar da Faculdade de Veterinária-UECE. Por não poder comprar material
didático e livros encontrei dificuldades para acompanhar os conteúdos de
matemática e português e sempre era aprovada com nota mínima.
Sem
biblioteca na escola, toda a tensão estava centrada na aula expositiva do
professor e para completar geralmente copiava conteúdos dos livros dos colegas
para não reprovar. As disciplinas propostas no ginasial eram de Português,
Matemática, Ciências, OSPB-Organização Social e Política Brasileira, Estudos
Sociais, Educação Moral e Cívica, Educação Física, e Religião.
O
medo da reprovação era evidente, pois não podia perder a bolsa do ano seguinte.
O medo da reprovação era uma constante com a turma e mesmo assim, nunca pensei
em desistir. Após o sexto ano consegui bolsa integral para estudar à noite no
Colégio Francisco Nunes Cavalcante no bairro Prefeito José Walter, onde cursei
o sétimo e oitavo anos. Nesse período a continuação das disciplinas anteriores acrescida
de Biologia, Química e Física. Como era em período noturno os professores já
eram mais flexíveis e abertos às discussões, até porque a maioria dos alunos era adulta parte trabalhava
durante o dia. Nessa época eu já dava reforço escolar na comunidade e vendia
catálogo da Avon, assim não precisava mais ir a pé e transporte público já não
era raro.
Após
terminar o ginasial aos 19 anos ingressei na Escola Estatual Otávio Terceiro de
Farias para fazer o Segundo Grau, hoje Ensino Médio, no curso de Habilidade em
Administração de Empresa. Aproveitava o tempo livre para fazer alguns cursos
gratuitos de datilografia e na área de escritório no Centro Social Urbano José
Walter no período da tarde e já ficava para o horário da noite.
No
curso de Habilidade em Administração de Empresas a tendência tecnicista se
fazia necessárias. De acordo com Pianowiski e Goldiberg (2015, p. 17), essa
tendência surgiu devido o “processo de industrialização e desenvolvimento econômico”
brasileiro, pois havia uma demanda racional e mecânica a qual pretendia formar a mão de obras
especializadas; sendo assim, a formação de mão de obra teria que ser
direcionada para a indústria, dessa maneira a formação do estudante teria seus “objetivos, conteúdos,
estratégias, técnicas e avaliação” com essa finalidade, principalmente no dois últimos anos de curso.
O currículo escolar era compreendia pelas disciplinas
de Administração de Empresas, Inglês, Contabilidade, Mecanografia, Organização
de Empresarial Matemática Financeira e Geométrica, além de Física, Química,
Geografia, História do Brasil, História Geral, Educação Física, Literatura,
Biologia.
A
pós 20 anos de trabalho, dona de casa e empreendedora de vestuário resolvi enfrentar
novos desafios. Fechei a empresa e resolvi me preparar para o ENEM. Durante dois
anos, meus domingos se resumiram ao Pré-ENEN no Ginásio Paulo Sarazate. Com o
incentivo dos filhos o cursinho transcorreu sem a preocupação com os
resultados. A Prefeitura de Fortaleza oferecia vale transporte, lanche,
apostilas, além de excelentes professores, lousa digital, interprete de libras,
uma sala de aula gigante com mais de três mil alunos e vídeo aulas para revisão
posterior. Diferentemente de tudo o que a tinha visto em termo de aprendizagem,
as disciplinas do currículo eram Linguagem e suas Tecnologias, Matemática e
suas Tecnologias, Ciências Humanas e ciências da Natureza e Redação.
Depois
de 32 anos ausente da sala de aula com os filhos já se formando consegui uma
bolsa integral via Enem para a UNICHRISTUS. Em 2014 escolhi o Curso Técnico em
Multimeios Didáticos ao qual tive muita afinidade. Os professores todos em
idade de serem meus filhos. No começo eu até fiquei sem jeito, mas recebi apoio
e o carinho da turma que me ajudou nas atividades e os professores apesar de
seguir uma tendência tecnicista imposta pelo curso eram mais interativos e
dinâmicos. Assim, os mestres já não se
consideravam os donos do saber já que fazíamos parte da construção do
conhecimento compartilhando as ideias e vivencias.
O
Curso Técnico em Multimeios Didáticos é um curso oferecido pelo Ministério da
Educação via Sistema de Seleção Unificada (SISUTEC) que prepara o profissional
para dar suporte ao professor diante dos novos desafios tecnológicos. Ele é
habilitado com aulas praticas para colaborar com o professor na área de
ferramentas interativas e digitais, criando projetos que suscite aos discentes
a uma aprendizagem mais dinâmica frente às novas tecnologias, bem como as
práticas artísticas manuais e digitais.
Português Instrumental, Metodologia da Pesquisa
Científica, Elaboração de Projetos, Disciplina de EAD, Biblioteca, Multimeios
na Educação, Tecnologias Assistivas e Inclusiva, Laboratório de Informática,
Educação para o Trabalho, Práticas Pedagógicas e Tecnológicas, Material
Impresso e Textuais, Práticas Trabalhistas, Informática Aplicada e
Empreendedorismo são as disciplinas da grade curricular do curso.
Antes de terminar o curso de Multimeios Didáticos, tentei
Geografia na UECE, mas não deu certo, fiquei em nono lugar nos classificáveis e
em seguida ingressei na Licenciatura em Artes Visuais via vestibular. Confesso
que esse sempre foi o curso dos meus sonhos desde o primeiro momento que voltei
a estudar.
Portanto, estou muito orgulhosa em fazer parte da turma de Artes Visuais
UAB/UECE-Maracanaú onde encontrei excelentes professores e tenho um ótimo
relacionamento com todos. Gosto da metodologia aplicada no Sistema EAD, mas o
encontro é sempre muito especial.
OBS:
Este artigo faz parte dostrabalhos academicos da disciplina de História da Educaçao do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da UAB/UECE-Polo Maracanaú.
BIBLIOGRAFIA
.
PIANOWISK,
Fabiane; GOLDBERG, Luciane. Artes
Plásticas: Metodos e técnicas do ensino de artes. 3. ed. Fortaleza - Ceará: UECE, 2015.
PRONATEC, Unicristus, 2014.