É um projeto de empreendedorismo socioambiental, atuante no campo das Artes Visuais, escrita criativa (prosa e verso), economia circular e práticas ESG. Objetivo: fomentar práticas de empreendedorismo socioambiental com mulheres periféricas por meio da cultura visual fortalecendo o potencial criativo com foco no meio ambiente. Atividades: Exposições de arte, oficinas de pintura, artesanato ecológico, customização, palestras sobre educação ambiental e empoderamento feminino.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

MENINAS AFRO-DESCENDENTES E A ESTÉTICA CAPILAR

 

 

Imagem: Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/788270741035016003/> Acesso em: 11/11/2024

Silviana é uma renomada cabeleireira, proprietária de um salão famoso na avenida Amazonas, no centro de Belo Horizonte. Em seu salão, faz ela diariamente chapinhas e processos capilares químicos permanentes, inclusive em crianças com 6, 7 anos.
Ela sabe muito bem quão é doloroso a chapinha para uma mulher adulta, quanto mais em uma criança nessa faixa etária.

Uma vez a cada quinze dias D. Beatriz leva sua filha ao salão da Silvana para fazer a chapinha, pois ela acha que a textura do cabelo cacheado tipo 4C dificulta o pentear da menina, sobretudo ao acordar pela manhã.


Para evitar o bullying na escola, a mãe, que também costuma ir ao salão fazer chapinha, cultiva esse gosto pelo cabelo alisado, mesmo sabendo que, além da espera, o sofrimento é doloroso. Ter um secador aquecendo o couro cabeludo, os puxões da escova profissional de Silviana e às vezes deixa a criança ansiosa, atordoada e em crise de choro.

— É um sofrimento, afirma, Silvana. Embora com o procedimento facilite o pentear nas horas de pressa, acordar com cabelo “pronto” para sair agiliza a vida.
Porém, Silvana sempre argumenta para algumas mães na primeira ida ao salão, pois em caso de criança é sempre mais traumático.

Apesar de Silviana tirar seu sustento desse sacrifício das mulheres, ela sente compaixão do calvário que é sofrer desde crianças com as amarrações, tererês, e tranças apertadas para que os fios não se esvoacem.
Certo dia, falando com ela sobre violência doméstica, apontamos que o simples gesto do penteado das meninas de cabelos encaracolados nos primeiros anos de vida já pode ser considerado um tipo de violência doméstica.

O simples fato de pentear, catar piolhos com o pente fino ou a puxada do fio capilares podem ser considerados um tipo de agressão física. As mães e a sociedade ainda não se deram conta de que podem ter consequências a longo prazo.

Essa dor durante o processo nos procedimentos capilares pode ter transtornos mais graves futuramente. Além de mexer com a autoestima das mulheres, a saúde mental e respiratória nem sempre são consideradas pelos especialistas em saúde. Afinal, produtos químicos capilares sempre têm suas restrições, nem sempre observadas pelas mães ou pessoas sem qualificação. Como ela mesmo fala:
— Quem tem cabelo crespo sabe que não é fácil lidar com o pente. Melhor seria que não existisse essa ferramenta de dentes afiados para puxar o cabelo das meninas com cabelos crespos. Infelizmente a sociedade ver os frisos capilares com desrespeito e as olham como desleixadas e descuidadas.

Desde criança, em nome da beleza feminina, o medo dos olhares velados da sociedade, as meninas sofrem com os dilemas do cabelo até a vida adulta.
Ainda bem que hoje, depois de tantas discussões, o mercado da beleza "negra" parece estar se adequando a esse público, sobretudo está inovando com seus produtos.

Bom seria que os valores dos cremes de pentear e produtos para o cotidiano nesse segmento tivessem um preço mais acessível por haver uma maior necessidade de aplicabilidade.

Quem sabe um projeto de lei reduza os impostos para os produtos femininos, inclusive os produtos que preservem a beleza da mulher "negra" em especial, os cremes de pentear, xampus e condicionadores?
Estes são necessários não só pela valorização estética capilar, mas para tratar, diminuir a agressão física, mental e sobretudo do couro cabeludo, principalmente das crianças com cabelos crespos.

Dessa forma, reduziremos os transtornos psicológicos e a dor da alma, problemas de saúde respiratória, o choro das crianças e democratizar mais esses produtos, além de empoderar as mulheres desde a infância.

Essa dor, que às vezes se arrasta pela vida afora, pode resultar em outros tipos de violência da mulher, podendo ser tratada como saúde pública. Não significa que não se queira adotar um visual diferente, moderno, etc., desde que não sacrifiquem as crianças em nome da estética capilar que o braqueamento da sociedade eurocêntrica nos impõe. Fica a dica!


Por Lia Batista.
Esse texto é meramente ilustrativo, porém foi inspirado em história real.
Escritora nos gêneros de prosa e verso e artista visual.
Instagram: @ecoartliabatista

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